quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vídeo-aula 8: A construção psicológica dos valores

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES


O que são valores, numa perspectiva psicológica? Como são construídos e quais valores deve a sociedade priorizar nos processos educativos? Estas são algumas das questões abordadas nesta vídeo-aula.


O professor Ulisses Araújo da USP aborda as seguintes questões nesta aula:
  • É possível uma educação em valores?
  • Como se dão os processos de construção e/ou apropriação de valores?
  • Quais valores devem a escola ensinar?
O professor disserta, então, sobre como se dá o processo da educação de valores do ponto de vista psicológico. Para isso utiliza como referencial Jean Piaget:

“Os valores referem-se a trocas afetivas que o sujeito realiza com o exterior. Surgem da projeção de sentimentos positivos sobre objetos, e/ou pessoas, e/ou relações, e/ou sobre si mesmo.”

O professor enfatiza os valores com sentimentos, com a afetividade, dizendo sobre o que damos valor é aquilo que geralmente gostamos. Como construímos esta dimensão afetiva? Através da "projeção de sentimento", que é do próprio sujeito e não exterior a ele. Ainda como referência a conceituação de Piaget, o professor Ulisses destaca a afetividade como cultivada nas relações entre pessoas, em sua convivência.*

Os valores e os sentimentos morais “Dependendo dos valores com os quais o sujeito construiu sua identidade, e de seu “posicionamento” central ou periférico, aparecerão os sentimentos morais.Sentimento morais, como a vergonha e a culpa, exercem o papel de regular as relações intra e interpessoais e são experienciados quando o sujeito age contra os valores que são centrais em sua identidade.”

Através destas frases é apresentado um esquema sobre os "posicionamentos dos valores na identidade", onde percebemos a inter-ralação entre o sujeito psicológico e seu meio. Conforme o enraizamento de seus valores o sujeito se relaciona com seu meio físico, interpessoal e sócio-cultual. Desde o processo de socialização na infância vamos construindo nossos valores e isso vai se intensificando com o decorrer da vida e formará nosso núcleo moral como sujeito psicológico. As setas apresentadas no esquema mostram o dinamismo desta relação, sua fluidez. Ao mesmo tempo em que um sujeito é honesto com a própria mãe, pode não sê-lo com o governo de seu país ao não pagar seus impostos.

A consequência deste tipo de teoria do ponto de vista de educação é que esses valores podem mudar a qualquer momento. “Pau que nasce torno morre torto”, este ditado não é verdadeiro para este conceito, pois a pessoa pode reconfigurar seus valores e, por isso, não são determinados. Não há idade para o processo de construção de valores!

Quais valores nós gostaríamos que a sociedade trabalhasse?

A escola e a família precisam definir quais valores consideram essenciais para o convívio das pessoas na sociedade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um guia para ser usado como referência. Precisamos saber como trabalhar e quais valores serão trabalhados a partir de métodos, técnicas e conteúdos através de projetos desenvolvidos na escola com intencionalidade.



Como sugestão de Meily Cassemiro do blog http://meilycass.wordpress.com/ assista ao vídeo: Formação de Valores com Telma Vinha.


* Há um depoimento no filme "A carne é fraca" onde é colocado que as pessoas que cuidam de animais como porcos, galinhas, vacas, não os matam devido ao laço afetivo que foi criado entre homem / animal. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Vídeo-aula 7: Educação e Ética

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES


A aula Educação e Ética procurará abordar alguns princípios relacionados ao tema da ética quando aplicado ao domínio da educação. Pensar a ética na escola significa meditar sobre as relações institucionais como um todo: a relação dos professores entre si; destes com os diretores e com os funcionários da escola; a relação entre professores e alunos; e finalmente a relação dos estudantes entre si. A despeito dessa complexidade que o tema evidencia, procurou-se restringir o campo da análise à questão dos procedimentos mediante os quais o docente poderá problematizar o tema da ética e dos valores com seus estudantes. Educar e produzir a cultura especificamente escolar requererá, de todo modo, eleger saberes e valores com os quais se dirigirá o processo de ensino-aprendizado. Meditar sobre isso é o objetivo desta aula.

Professora Carlota Boto

A professora Carlota inicia sua aula dizendo que a criança tem como sua primeira socialização a família. Porém, antes de atingir a socialização plena com a cidadania, ela (a criança) passa pela escola, ambiente no qual aprenderá seus primeiros passos para a vida social.

Neste período escolar os educadores convivem com o conflito autoridade versus liberdade. Este é o desafio, pois a criança ainda está na fase da heteronomia, ou seja, as regras são exteriores a ela.  A educação lhe proporcionará o avanço rumo a sua autonomia. Por isso, há uma intencionalidade pedagógica em nosso ensino não só teórico mas, também, com nossos exemplos práticos.

Em sequência a professora aborda a ética no período da Grécia Antiga. Nesta época a ética e a política seriam campos quase complementares. Platão e Aristóteles escreveram sobre estes temas tendo como sujeito o homem livre. Os gregos utilizavam ethos para falar de ética e os romanos utilizavam mores para falar de moral. Ambos significando costumes. Hoje, segunda a professora, conceituamos ética como "comportamento escolhido; adesão voluntária a um conjunto de regras de ação"; e conceituamos moral como "formas de agir socialmente recomendadas; exteriores ao sujeito, externas à opção individual".

O que há em comum entre as duas conceituações de ética e moral é a relação com o outro. Em educação o outro é o nosso aluno, o nosso colega, aquele que não somos nós. Temos que pautar a nossa ação possibilitando uma vida do bem e uma vida digna. Os gregos faziam essa correlação, falando sobre a vida boa e a ação correta.
A ética é sempre construída como um hábito, partindo de exemplos e ações. Vamos nos defrontar com o tema nas relações com os alunos, colegas de trabalho e funcionários da escola.

A Professora Carlota cita então a seguinte passagem de Aristóteles em sua obra "Ética a Nicômaco": "Estou falando da excelência moral, pois é esta que ser relaciona com as emoções e ações e nesta há excesso, falta e meio termo. Por exemplo, pode-se sentir medo, confiança, desejos, cólera, piedade e, em todos os casos, isto não é bom: mas experimentar estes sentimentos no momento, em relação aos objetos certos e às pessoas certas, e de maneira certa é o meio termo e o melhor, e isto é característico da excelência. Há também, da mesma forma, excesso, falta e meio termo em relação às ações. [...] A excelência moral, portanto, é algo como equidistância, pois, como já vimos, seu alvo é o meio termo.”

Esse trecho do Aristóteles nos leva a pensar nos desafios que dizem respeito à igualdade em lidar com o coletivo dos nossos alunos, porém pelo reconhecimento. Por outro lado, pela diferença. Somente nessa relação entre igualdade e fraternidade podemos preparar com a democracia. Assim, podemos lidar com a formação do comportamento de viver de maneira a não ferir o outro.


Citando Richard Sennett, 1988, páginas 323 e 324, ela diz “Cidade e civilidade têm uma raiz etimológica comum. Civilidade é tratar os outros como se fossem estranhos que forjam um laço social sobre essa distância social. A cidade é o estabelecimento humano no qual os estranhos devem provavelmente se encontrar. A geografia pública de uma cidade é a institucionalização da civilidade.”

Cita ainda as duas máximas kantianas na "Fundamentação da Metafísica dos Costumes": 

“Age de tal maneira a humanidade, tanto em tua pessoa como na de todos os outros, sempre ao mesmo tempo como um fim, e nunca como um meio. 
[...] Age de tal modo que  máxima de tua ação possa transformar-se em lei de validade universal.”


Para saber se a atitude que eu tomo em alguma situação pedagógica me leva a pensar se eu possa transformar uma ação em benefício de todos os outros. Devemos pensar na ética com relação a nós mesmos.


Perguntas da Ética:
  • Como e por que a ação é moralmente correta?
  • Que critérios devem orientar o pensamento?
  • O que devo fazer?

Ação correta:
  • Felicidade de todos
  • Toma o agente virtuoso
  • Acordo com regras determinadas
  • Justificada aos outros de forma razoável

Determinação da ação correta: ética normativa:
  • Que devemos fazer?
  • Qual a melhor forma de viver bem?

Ética aplicada: resolução conflitos práticos mediante princípios ética normativa.

Daí a importância do professor, juntamente com os alunos, expor claramente o "contrato pedagógico" ou os chamados "combinados". Onde o aluno é participe na construção das normas, das regras.

No convívio escolar devemos evitar as atitudes intolerantes que demonstram a dificuldade de conviver com o diferente, caracterizados por: 
- Juízos cristalizados; generalizações falsas
- Ideologias e falsificação da realidade

Por conseguinte, a importância da educação como instância privilegiada para se evitar/corrigir práticas de intolerância.

As atitudes tolerantes partem da confiança na racionalidade, na razoabilidade e no direito do outro: respeito e solidariedade.

Finalizando a aula, a professora Carlota cita a frase de Camps, 1996, página 11, sobre a ética da justiça e a ética do cuidado: “[...] a ética fala da justiça porque há desigualdade, fala da amizade porque não somos auto-suficientes, fala da democracia porque não existem sábios suficientemente capazes e competentes para governarem sem perigo de se equivocar.”

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vídeo-aula 6: Temas Transversais em Educação

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES

Esta vídeo-aula está organizada em dois momentos diferentes: no primeiro, apresenta as diferentes concepções de transversalidade na educação, bem como as diferentes formas de trabalhá-las no cotidiano escolar; no segundo momento, apresenta um projeto transversal e interdisciplinar desenvolvido numa instituição escolar.


Professora  Valéria Arantes - Faculdade de Educação – USP
A vídeo-aula tem dois momentos:
1º momento: diferentes concepções de transversalidade
2º momento: prática de transversalidade

Segunda a professora Valéria cada cultura deve agir de uma maneira muito livre e cada comunidade ou instituição escolar deve eleger os temas prioritários a serem trabalhados. Na legislação brasileira, os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que sejam trabalhados alguns dos seguintes temas: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, pluralidade cultural, trabalho e consumo.

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Acessado em 23 de setembro de 2011
Existem diferentes concepções de transversalidade e duas diferentes formas de promovê-las:

1ª Concepção: As disciplinas são o eixo vertebrados do currículo

A escola continua organizada ao redor das disciplinas escolares tradicionais (Matemática, Línguas, História, Geografia, Ciências, etc.). Isso quer dizer que o objetivo da escola é desenvolver o conhecimento destas disciplinas. Quando a escola se propõe a um trabalho com temas transversais isto ocorre, geralmente, das seguintes formas: 

  • Atividade pontuais
Quando são desenvolvidas na escola de maneira pontual. Exemplo: um professor de Ciências se programa para trabalhar durante uma semana sobre drogas, desenvolvendo ações de maneira pontual, dentro da disciplina na qual é responsável. Neste caso há a fragmentação da aprendizagem.

  • Palestras
Quando as disciplinas organizam palestras e acessorias sobre os temas transversais. Exemplo: quando a escola contrata profissionais para fazer ciclos de palestras ou cria uma disciplina sobre ética. Também há a fragmentação do conhecimento neste caso.

  • Projetos
Quando há o oferecimento de projetos interdisciplinares sobre temas transversais. Exemplo: ONG promove materiais ricos para trabalhar temáticas transversais. Esse material chega à escola os professores trabalham sobre um tema. Porém, não havendo diálogo entre as diferentes disciplinas, a transversalidade não acontece.

  • A incorporação da transversalidade
A transversalidade deve estar incorporada nas próprias disciplinas. Os professores defendem que não existe sentido trabalhar a cidadania fora das disciplinas. A grande crítica é que a prioridade continua sendo as disciplinas e não os temas transversais.

  • A partir de situações específicas
A transversalidade é trabalhada como momentos especiais a partir de problemas específicos. Exemplo: quando há desentendimento entre alunos no recreio a escola trabalha sobre valores. O perigo é cair no moralismo, pautada em valores individuais dos professores. Há a falta de sistematização e intencionalidade do trabalho.

2ª Concepção: Eixos "vertebradores" do currículo e as temáticas que são necessárias serem trabalhadas na comunidade. Perpassando transversalmente estão as disciplinas curriculares. 

Isso, segundo a professora Valéria, é uma mudança paradigmática muito importante. Os conteúdos tradicionais deixam de ser “finalidade” da educação e passam a ser concebidos como “meio” para se trabalhar os temas transversais.

As temáticas transversais são pontos de partida ou de chegada na formação do sujeito. Elas objetivam a educação em valores e tornam-se o eixo "vertebrador" (vertical no gráfico apresentado) do sistema educativo, em torno dos quais serão trabalhados os conteúdos curriculares tradicionais.

Esta segunda concepção é muito mais próxima do que desejamos mas é necessário reconhecer que ela continua promovendo determinada fragmentação à medida que as diferentes temáticas não se encontram, pois não existem articulações entre elas. Por isso, continuamos buscando novas metáforas para se conceber essa transversalidade.

Concepção 3: Novas metáforas para a transversalidade.

Estratégias que vão além da compartimentalização disciplinar (romper com a organização escolar); estratégias que tiram a escola do seu isolamento, conectando-a com o mundo externo.

O ponto de partida para um trabalho realmente interdisciplinar deve ser um tema relevante para uma determinada comunidade. Como exemplo podemos citar a poluição de um córrego que passa em determinada comunidade. Esse é um eixo "vertebrador" e a partir deste problema posso recorrer aos diferentes campos do conhecimento. Também poderia ser a sexualidade ou a violência. Isso exigirá um trabalho articulado entre diferentes professores para termos uma visão mais completa e complexa dos problemas sociais.

Vídeo-aula 5: O conceito da transversalidade

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES

Nessa vídeo-aula o conceito de transversalidade será abordado considerando os objetivos da educação, bem como os avanços paradigmáticos da ciência e suas relações com a construção da democracia, da justiça e do bem-social.


O professor Ulisses Araújo inicia a vídeo-aula com o questionamento sobre a finalidade dos benefícios que as ciências alcançaram neste século. A quem interessa os resultados fantásticos que produzimos cientificamente em nossos dias? A ciência serve a quem? E a educação, está a serviço de quem?

Com esses questionamentos como base o professor Ulisses destaca quais são os objetivos da educação:

  • Instrução: são os conteúdos definidos por cada cultura / sociedade.
  • Formação ética e moral: a cidadania
Segundo o Prof. Ulisses, a formação para a cidadania está presente no texto do Projeto Político Pedagógico das escolas, mas, mesmo assim, elas se limitam a dar aulas de Português, Matemática, História, Geografia, Ciências…, e isso o incomoda. As escolas ignoram ou fazem de forma subjetiva essa forma da educação para a cidadania.

Nas últimas décadas a família mudou muito. Os pais estão fora de casa o dia todo, muitas crianças são "criadas" por tios, avós, irmão ou irmã com mais idade e alguém precisa educar os filhos. Por isso, a instituição social que pode se responsabilizar por isto é a escola.

Mesmo com essa responsabilização a disciplinarização ainda está dentro da escola, pois os professores continuam presos no modelo de especialização do nosso conhecimento científico / educacional.


Portanto, a transdisciplinaridade pode romper esta visão ou mostrar o caminho pelo qual vamos superar a disciplinarização e com isto, trazer para as escolas outros conteúdos que até então ainda não foram trabalhados no cotidiano das futuras gerações.

O conceito de transversalidade na educação:

Temáticas que atravessam, que perpassam os diferentes campos do conhecimento.

Professor Nilson Machado (Faculdade de Educação – USP) esclarece que “a reação na organização curricular, a fragmentação disciplinar foi a busca da transversalidade; a busca de temas que atravessassem transversalmente todas as disciplinas. As questões sobre valores, por exemplo. São questões que não cabem dentro de nenhuma disciplina em especial da escola básica. Essas questões de valores cortam todas as disciplinas, transversalmente.”

Um tema para ser considerado transversal na dimensão sobre o papel da ciência e da escola (para beneficiar os 90% da população, que ainda são excluídos em sua grande maioria) precisa ser pensado em temáticas ético-políticas-sociais, atreladas à melhoria da sociedade e da humanidade.

Quais seriam estes temas transversais? 

O professor Ulisses enfatiza o conceito epistemológico de transversalidade, porque ele muda o foco e o objetivo da escola nas aulas cotidianas.


Quais temas sãos transversais?

  • Voltados para uma educação em valores;
  • Temas que buscam dar respostas aos problemas que a sociedade reconhece como prioritários e importantes. Exemplo: a temática de drogas;
  • Temas que buscam conectar a escola à vida das pessoas. Exemplo: temáticas sobre saúde, sobre sentimentos e afetos;
  • Temáticas que estão abertas à incorporação de novos temas e problemas sociais. Exemplo: a questão ambiental ou da violência. O meio ambiente ou a violência não são disciplinas, mas são temas que causam preocupação e merecem atenção hoje.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Vídeo-aula 4: A escola e a construção de valores

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES

Pensar na construção de escolas democráticas que almejem a construção de personalidades morais nos leva a compreender alguns dos diversos fatores que interferem neste processo dentro do cotidiano escolar. Sua identificação auxilia na compreensão da complexidade das relações presentes no cotidiano escolar e na busca por formas mais realistas de intervenção na educação para a cidadania. Os aspectos identificados, que serão abordados nesta video-aula, são: os conteúdos escolares; a metodologia das aulas; o tipo e natureza das relações interpessoais; os valores; a auto-estima e o auto-conhecimento dos membros da comunidade escolar; e os processos de gestão da escola.

Nesta vídeo-aula o professor Ulisses Araújo discorre sobre sete aspectos que a escola deve estar atenta para  transmitir realmente uma educação em valores.

O primeiro aspecto são os conteúdos escolares - a inserção transversal e interdisciplinar de temáticas de ética, direitos humanos, inclusão social e convivência democrática no currículo da própria escola. 

O segundo aspecto é metodologia das aulas - o professor precisa incorporar a construção coletiva, cooperativa do conhecimento; precisa haver o diálogo em sala de aula onde o professor se coloca ao mesmo nível do aluno; e, este, deve ter um papel ativo na construção do saber, de protagonista no processo de conhecimento.

O terceiro aspecto é o trabalho intencional com valores - o professor Ulisses sugere trabalhar com a Declaração Universal dos Direitos Humanos como referencial, pois traz os princípios éticos que julgamos válidos para todos.

O quarto aspecto são as relações interpessoais - construir sentimentos no dia a dia escolar como respeito, autoridade e admiração (o sentimento que promove a identificação entre a pessoa respeitada e a que respeita), novamente com uso do diálogo estabelecendo relações democráticas para a efetivação dos valores que desejamos.

O quinto aspecto é a auto-estima - a importância da auto-imagem onde cada ser humano constrói para si uma imagem que julga representá-lo, com a qual se identifica e se confunde (Harkot-de-La-Taille, 1999); esta auto-imagem é processada pela consciência onde cada um sente a auto-estima sobre si mesmo.

O sexto aspecto que também é muito importante na construção dos valores no ambiente escolar é o auto-conhecimento -  são os sentimentos e as emoções. Tomar consciência dos próprios sentimentos e emoções é essencial para a construção da ética e da democracia escolar.

O sétimo aspecto é a gestão escolar - pois, uma instituição em que as decisões sejam centralizadas nas mãos de um pequeno grupo, em que as regras e o projeto acadêmico já se encontrem pré-determinados a partir dos valores e crenças de algumas pessoas não permite o diálogo e a reorganização constante dos tempos e espaços, e a busca coletiva de novos e melhores caminhos para enfrentar os desafios cotidianos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Vídeo-aula 3: O juizo moral na criança

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES

Nesta aula discutimos as relações entre o ambiente escolar democrático e sua influência nos processos de desenvolvimento da cooperação e do juízo moral infantil. O ponto de referência é a teoria de Jean Piaget e seu livro de 1932, O juízo moral na criança.

Encontramos no livro didático "Filosofando", no capítulo 18, ninguém nasce moral: "Todas as pessoas precisam ser educadas para a convivência. O processo de aprendizagem supõe descentramento, um sair de si mesmo, tanto do ponto de vista da inteligência como da afetividade ou da moral. A descoberta do outro como um "outro eu" é fundamental para superar o egocentrismo. No entanto, o desenvolvimento desses três níveis mentais - inteligência, afetividade e moralidade - não é automático, porque exige a intermediação de agentes culturais - pais, professores, adultos em geral.
Do ponto de vista moral, a educação começa pela heteronomia, em que as regras morais são introjetadas sem crítica, até que possa alcançar a autonomia, típica da maturidade. Se na fase da heteronomia as crianças obedecem às regras que lhes são impostas, aos poucos é preciso abrir espaços de discussão a fim de estimular a adesão pessoal e autônoma às normas."
"Do ponto de vista moral, a vida do bebê é pré-moral e, portanto, nele predomina a anomia."
Ainda segundo as autoras do livro "A capacidade de reflexão dá condições para o amadurecimento moral, pela organização autônoma das regras e pela livre deliberação. Enquanto no estágio anterior prevalece o respeito unilateral, fundado em moral de coação, heteronômica, ao entrar na vida adulta torna-se possível o exercício do respeito mútuo, não hierárquico, típico das relações autônomas."

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Vídeo-aula 2: Os caminhos da interdisciplinaridade

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES


No caminho percorrido pela história das ciências, propostas interdisciplinares, multidisciplinares e transdisciplinares tiveram sua importância na construção de novos paradigmas.

http://osmurosdaescola.files.wordpress.com/2011/07/interdisciplinaridade.jpg?w=1024&h=744
Acesso em 9 de setembro de 2011
Nesta vídeo-aula o professor Ulisses Araújo inicia com destaque as bases do pensamento simplificador, ideia do antropólogo e filósofo francês Edgar Morin, que tem como contexto o que conhecemos como modernidade.

O primeiro tópico apresentado é o que Morin chama de disjunção, ou seja, a separação entre os diversos tipos de conhecimento. Aqui temos a criação das diversas disciplinas. Temos, por exemplo a Biologia para estudar os seres vivos.

O segundo tópico é a redução, onde temos o caminho do todo ao simples, analisamos as partes como se fosse o todo. Temos a tendência a simplificar tudo e dar respostas imediatas do senso comum a assuntos complexos ou que deveriam receber uma investigação mais apurada.

No terceiro tópico temos a abstração que gerou a matematização e a formalização da ciência. Neste novo modelo desta nova forma de fazer ciência o filósofo francês Descartes tem grande importância através de sua ideia de método conforme vemos representado no gráfico abaixo:
O método cartesiano. No preceito ou passo 1, as coisas indubitáveis (círculos marcados com i) passam por um "funil", que impede a passagem de coisas que tragam dúvidas (d). No segundo, as coisas são analisadas, ou seja, divididas para melhor compreensão; no terceiro, procede-se a síntese, ou agrupamento em graus de complexidade crescente. No último passo, as conclusões são ordenadas e classificadas. 
http://compartilhandoecriandoinformacao.blogspot.com/2008/01/discurso-do-mtodo-ren-descartes.html
Acesso em 9 de setembro de 2011 
Através destas três ideais expostas acima Morin extrai o conceito de pensamento simplificador "que trouxe a vantagem da divisão do trabalho, da produção de novos conhecimentos e a elucidação de inúmeros fenômenos. Permitiu ao ser humano tentar dominar e controlar a natureza, e foram inequivocamente eficazes para o progresso científico e para a melhoria de condições de vida da população entre os séculos XVII e XX".

A partir do século XX começamos a encontrar movimentos nas ciências que buscam a superação desta 
disciplinaridade, ou seja, a redução do todo em partes.

O professor Ulisses Araújo cita então três conceitos que visão esta superação. 

A primeira é a transdisciplinaridade, que vai além, refere-se a temáticas que ultrapassam a própria articulação entre as disciplinas. Como exemplo ele cita o "desenvolvimento sustentável de uma determinada região" e não mais simplesmente Biologia, Sociologia ou Geografia.
http://osmurosdaescola.files.wordpress.com/2011/07/image002.jpg?w=500&h=602
Acesso em 9 de setembro de 2011
O segundo movimento é a multidisciplinaridade, ideia de muitas, que ocorre quando um determinado fenômeno a ser analisado solicita o aporte de várias disciplinas para explicá-lo. No entanto, estas disciplinas não dialogam entre si. Tomando o exemplo da água precisamos da análise do químico, do biólogo e do geógrafo para chegarmos a determinada conclusão sem o debate entre os profissionais, não conversam entre si, cada um faz sua parte.
http://osmurosdaescola.files.wordpress.com/2011/07/image002.jpg?w=500&h=602
Acesso em 9 de setembro de 2011
No terceiro movimento para a superação da disciplinaridade temos a interdisciplinaridade, foco principal que será desenvolvido no curso Ética, Valores e Cidadania. Temos a interdisciplinaridade quando um fenômeno é comum a duas ou mais disciplinas ou campos do conhecimento e em seu estudo os participantes estabelecem diálogo entre si. Existe o debate entre os profissionais das disciplinas envolvidas em busca de uma solução para o problema apresentado. Há a troca de ideias, há o momento de ouvir o outro.
http://osmurosdaescola.files.wordpress.com/2011/07/interdisciplinaridade_elen.jpg?w=367&h=292
Acesso 9 de setembro de2011

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Vídeo-aula 1: As revoluções educacionais

MÓDULO I - INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE E CONSTRUÇÃO DE VALORES

Quais os objetivos da educação? A quem se destina? Como as transformações sócio-político-econômicas vêm influenciando a busca da qualidade na educação?

Nesta vídeo-aula o professor Ulisses Araújo cita as revoluções educativas a partir das análises de José M. Esteves em seu livro "A Terceira Revolução Educacional". 

A primeira discussão proposta por Esteves é a quem se destinava a educação na primeira revolução educacional, localizada nas côrtes dos faraós egípcios há cerca de 2.500 anos? 

A resposta é para a educação dos filhos dos faraós, dos sacerdotes, dos filhos dos nobres, dos reis, enfim da aristocracia, ou seja, de uma parcela da população, realizada nas Casas de Instrução.

Através da imagem de Chardin (1736), "A Jovem Professora", podemos perceber a relação individualizada um professor para cada aluno. Este modelo teve a duração de aproximadamente 2.000 anos.

Na sequência o professor aborda a segunda revolução educacional com início nos séculos XVII e XVIII com a consolidação dos Estados nacionais (europeus) e com a publicação de um Decreto do Rei Frederico Guilherme II da Prússia, em 1787, que determina a responsabilidade do Estado sobre a educação e, ainda, que ela deve ser pública. 

Já em meados do século XIX temos o modelo de escola que perdura até os nossos dias, ou seja, o ambiente entre quatro paredes e com a figura de um professor para um número maior de alunos, abandonando a relação individualizada.

Através da análise de uma imagem desta escola tradicional podemos perceber a figura do professor como aquele que detém o saber, esta à frente, para ensinar pois teve acesso ao conhecimento. Outro aspecto analisado na fotografia é a presença da lousa e o local mais elevado onde o professor leciona.

Um último aspecto contemplado na imagem é a presença apenas de meninos, ainda em número reduzido e que, portanto, excluía boa parte da população (cerca de 90%). Somente 10% tinham acesso à educação, embora ela já fosse considerada pública. Tínhamos a exclusão das meninas e também de outros meninos (pois não há a presença do negro). A homogenização, a padronização (todos com o mesmo corte de cabelos, com roupas semelhantes, com o mesmo tamanho, do mesmo gênero) é outra característica desta segunda revolução educacional. Cabe ressaltar, ainda, a exclusão de qualquer diferença no ritmo de aprendizagem como alunos hiperativos, alunos com defasagem ou com lentidão neste processo. 

A escola daquela época estava relacionada com a própria estrutura das cidades, que eram predominantemente agrária.  

Chegamos, então, a terceira revolução educacional que começa a se configurar no início do século XX, em torno das décadas de 20 e 30 nas sociedades europeias e no Brasil nos últimos vinte ou trinta anos.


As características principais desta revolução são a democratização e a universalização que estão estreitamente ligadas aos processos que estamos vivendo, não mais agrário, e sim com a industrialização, o comércio e o setor de serviços que exige um trabalhador mais escolarizado, mais instruído. Isso nos conduz para a escola atual onde temos a inclusão das diferenças (sociais, econômicas, psíquicas, físicas culturais, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero), ou seja, uma escola para todos.

Finalizando, o professor Martins faz questionamentos sobre como vamos lidar com esta nova escola inclusiva nos quesitos de acessibilidade, equidade e qualidade.