O Grupo de percussão Uh-Batuk-Erê, formado por estudantes de escolas públicas da cidade de São Paulo, é um exemplo de como o trabalho de articulação entre escola e comunidade pode gerar frutos e contribuir para a construção da cidadania ativa.
Professor Edson Azevedo da Rede Municipal de
Ensino, que relata a experiência vivia em uma escola da Zona Norte de São
Paulo.
A escola chama-se EMEF Professora
Esmeralda Salles Pereira Ramos, bairro do Tremembé/Jaçanã.
Inicialmente, fala-nos que a escola
encontrava-se em uma área de risco, com grande vulnerabilidade aos jovens, com
casas ocupadas de forma irregular, ausência de infraestrutura ( rede de
esgotos, água encanada, etc).
E para resgatar os valores desta
comunidade carente, realizou um projeto que é relatado a seguir.
Por
que começou?
Alunos com dificuldades em emitir
suas opiniões (baixíssima autoestima), que consequentemente, geram:
- distorção de identidade
- surgimento de preconceitos
O
que fazer?
Inicialmente
cita uma frase de Bob Marley: “Enquanto a cor da pele for mais importante que o
brilho dos olhos, sempre vai existir guerra”.
E, desta forma, procurou-se caminhos
para a pacificação...levando-se em frente o Projeto (ação) UH-BATUK-ERÊ! ... que visava estabelecer a diologicidade
entre os diversos saberes e tradições, identificando as etnias que formam o
povo brasileiro.
Como promover esta ação comunitária?
- promover a arte como mediadora do
multiculturalismo presente na identidade brasileira, orientado pela pedagogia
da autonomia, da emoção do saber fazer consciente (referenciais teóricos).
Foram realizados 5( cinco ) encontros de formação ( 5
frentes):
1ª
frente: Encontros de formação
2ª
frente: Oficinas (percussão, dança e capoeira, dando ênfase
ao corpo, movimento e expressões).
3ª
frente: Oficinas de canto, oralidade e artesanato
(produção e expressão de ideias e sentimentos).
Tais eventos visavam, principalmente, o fortalecimento da
comunidade.
4ª
frente: Fóruns comunitários com a elaboração da Carta do Esmeralda
Presença de espaços de discussão de temas: violência,
saneamento básico, áreas de ocupação, sendo que os fóruns passaram a espaços de
discussão e tomadas de decisão.
A escola passa a assumir o seu papel de interventor
social e lançou uma carta denominada: Carta do Esmeralda, que solicitava junto
as autoridades competentes assumirem as demandas solicitadas e reivindicadas
pela comunidade atual.
5ª frente:
Trilhas Culturais: com a presença permanente de alunos
protagonistas que passaram a vivenciar e conhecer outros espaços da cidade,
entrando em contato direto com diferentes
culturas e momentos de lazer e olhar para estes espaços e tentar melhorar,
a partir desta nova visão de mundo, o local onde vivem.
Passaram então a ver e aprender para poder melhorar suas
condições locais. Desta forma, segundo o professor a escola passa a ter voz e
representatividade.
Tiveram então apresentações, tanto internas (para a
comunidade escolar) quanto externas (comunidade local entorno) e demonstraram a
todos o que realmente tinham já aprendido.
Houve um intenso protagonismo por parte dos alunos, pois
os mesmos trazem para dentro da escola a comunidade pertencente, organizando os
eventos que se fizeram necessário e recebendo de braços abertos os integrantes
(pais e familiares) desta comunidade.
Enfatiza o professor que tais alunos assumiram, de forma
decisiva e intensa, o papel de alunos protagonistas.
Eventos
internos:
- Confraternização com a comunidade;
- Feijoada anual: Amigos do Batuk
- Acolhimento a manifestações culturais
Trazendo, desta forma, o reconhecimento da escola pela
comunidade, levando à algumas conquistas:
locais ( Escola como referencia de cultura afro-indígena);
municipais (Prêmio Paulo Freire de Qualidade)
e estaduais (Prêmio
Construindo a Nação/ Instituto de Cidadania e também Nacional (Funarte – MEC- SP em virtude da
apresentação da peça no Teatro Espetáculo: “Mulheres e Divindades”).
Desta forma, indaga-nos o professor ao se referir: o que
a escola tem de inovadora?
Afirma dizendo que o diálogo permanente entre o
sentimento e a ação num processo contínuo de formação, que aproxima seus
componentes, citando o dinamismo pedagógico que existe entre: ação – emoção –
ação. Cita que algumas coisas tiveram que ser mantidas e outras tiveram que ser
rompidas, ocorrendo estes fatos, através do diálogo franco e objetivo.
Enfim, o que mudou?
- A relação como grupo, pois os alunos ficaram mais
fortes, passando a intervir na comunidade;
- Atuação e envolvimento no espaço- escola (identidade)
- Compartilhamento de ações coletivas
-Encontros comunitários (parcerias, amigos e pais)
- Redução de preconceitos e desigualdades (os denominados
conflitos maiores).
Colocaram em pratica a que preconiza nossa Lei Federal
que visa diminuir os preconceitos nas unidades escolares e espera que os
efeitos da ação UH-BATUK-ERÊ continue... para que os seus alunos possam
acreditar nos seus papéis sociais e valores humanos.
Buscando resultados concretos e mensuráveis (fóruns e
trilhas), tais como:
1 - resignificando a escola como elemento agregador,
envolvendo a comunidade;
2 - valorizando o saber popular associado ao
sistematizado;
3 – construindo a cidadania com emoção e conhecimento
4 – formando e fazendo a nossa história (era isolada, sem
opinião própria e agora passou a ter sua própria opinião, forte, por sinal...)
Para finalizar os momentos vividos, exibem-nos, através
de fotos:
1- Eventos
na escola;
2- Eventos
nos grupos;
3- Eventos
de lazer (fundamental);
4- Eventos
no aprender (troca de valores e experiências entre as comunidades);
5- Nas
conquistas (prêmios)
Afirma que ao som dos tambores os alunos
e a comunidade tiveram:
- ação / - emoção / educação.
Desta forma, a Educação passou a ser um
fenômeno de responsabilidade comunitária. Cita que:
- Escola – passou a ser um espaço de decisões;
- Fóruns – passaram a ser um espaço de discussões
E termina sua explanação citando um
poema de Fernando Pessoa:
Há um tempo em que é preciso
Abandonar as roupas usadas
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os caminhos que nos
Levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia:
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado, para sempre a
Margem de nós mesmos.
Deixa como mensagem final: Comunidade
que ousa desafiar; autonomia que efetua, que realiza a travessia para
transformar.
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